Aula Aberta
quarta-feira, outubro 12, 2005
  Teste de Português A - 12.º Ano
TEXTO

Solemnia Verbia[1]

Disse ao meu coração: olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...

Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E noite, onde foi luz de Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!

Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,

Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.
Antero de Quental, Sonetos.


1. Após uma leitura atenta do poema transcrito, faz o comentário global do mesmo, orientando-te pelos tópicos seguintes:

- Tema;
- Desenvolvimento do tema e as suas partes lógicas;
- Contextualização do poema no percurso evolutivo do poeta;
- Modos de expressão e pessoas do enunciado (discurso);
- Linguagem e sua expressividade.

II

Resume o excerto a seguir transcrito, constituído por trezentas e quatro palavras, num texto de noventa a cem palavras.

A denúncia e a condenação do constitucionalismo ordeiro ¾ pedra-de-toque dos dissidentes de Coimbra ¾ baseava-se menos nos princípios, alguns dos quais, como a liberdade, eram o seu fundamento constitucional, do que na sua prática social, isto é, no falseamento das instituições. A astúcia dos políticos, a perversidade dos caciques[2], a habitual utilização da fraude contribuíam para a corrupção do espírito público, para a perigosa e dissolvente prática da ambiguidade do comportamento. As consequências eram visíveis a par da lamentável ignorância da população, grassava a mediania económica que, em algumas camadas, roçava a miséria. As personalidades que mantinham a situação rasgavam os nobres pergaminhos da geração que ganhara a guerra civil, corrompiam-se na misantropia lírica ou na retórica clássica.
É neste panorama que a juventude se lança no ataque moral às incarnações simbólicas dessa deprimente situação. A desejada actualização, contrariamente ao que se crê, correspondia às urgentes necessidades nacionais e já fora proposta por Garrett e Herculano. Contrariar ou condenar essa sã atitude era prova do mais mesquinho espírito chauvinista[3]. Autênticos patriotas, como pensara Eça de Queirós, eram precisamente os que ansiavam pelo fortalecimento da consciência crítica, os que acusavam vícios para os remediar, aqueles que pretendiam guindar-nos à condição de homens independentes e ilustrados.
(...) Morto Garrett, da velha geração romântica só Herculano teimava em defender a sua independência – e mesmo assim à custa de um relativo e às vezes forçado silêncio. Consciente do seu poder corruptor, a administração cuidava, de longe ou de perto, das nossas inteligências criadoras. Após a conversão dos intelectuais que, na sua juventude, haviam militado no socialismo, torna-se regra a corrida aos lugares públicos e às situações rendosas. A pretensão dos escritores aos postos oficiais e oficiosos implicava uma atitude respeitosa e obediente para com as instituições vigentes. Numa palavra: consumara-se a burocratização intelectual.

Mª José Marinho e Alberto Ferreira, A Questão Coimbrã.

[1] Palavras solenes.
[2] Cacique – chefe popular, aquele que controla as decisões numa terra, líder provinciano.
[3] Chauvinista – patriota ferrenho, nacionalista exagerado e ridículo.
 
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