Aula Aberta
sexta-feira, novembro 18, 2005
  Queirós, José Maria Eça de(1845 - 1900)

Escritor português, natural da Póvoa de Varzim. Oriundo de uma família burguesa e culta, dada a sua condição de filho ilegítimo passou grande parte da sua infância em Verde Milho, na casa dos avós paternos. Mesmo após o casamento dos pais, quatro anos depois do seu nascimento, aí continuou até 1855, ano em que se matriculou no colégio da Lapa, no Porto. Aqui conheceu Ramalho Ortigão, de quem se tornou amigo, embora aquele, filho do director do colégio e aí exercendo funções docentes, fosse nove anos mais velho que ele. Em 1861, entrou na Faculdade de Direito de Coimbra, concluindo a sua formação em 1866.
Em Coimbra, entrou em contacto com o movimento intelectual que então se iniciava, entre a juventude académica. Conviveu com personalidades como Teófilo Braga e Antero de Quental, mentor da célebre Geração de 70, de que também fez parte, assistindo ao desenrolar da Questão Coimbrã e lendo os autores e pensadores em voga, quanto às novas teorias sociais da Europa. Em 1866, já formado, instalou-se em casa dos pais, em Lisboa, no Rossio, e inscreveu-se como advogado no Supremo Tribunal de Justiça. A sua carreira de folhetinista e crítico teve início neste período, com os artigos publicados, entre 1866 e 1867, na Gazeta de Portugal, (onde conheceu Jaime Batalha Reis) e mais tarde reunidos sob o título Prosas Bárbaras (1903). Nestes artigos denota-se uma série de influências, manifestando-se, sobretudo, um temperamento ainda romântico e a originalidade estilística que viria a ser característica deste autor.
No final de 1866, partiu para Évora, onde, mantendo a sua colaboração na Gazeta de Portugal, dirigiu o jornal de oposição política O Distrito de Évora. Em Julho de 1867, regressou a Lisboa, onde exerceu advocacia. No final do ano formou-se o «Grupo do Cenáculo», de que Eça foi um dos primeiros membros e do qual resultará a realização, em 1871, das Conferências do Casino. Em 1869, são publicados os primeiros versos do «poeta satânico» Fradique Mendes (de certa forma uma antecipação ao processo de criação heterónima de Fernando Pessoa), na Revolução de Setembro. No mesmo ano, efectuou uma viagem pelo Egipto e pelo canal de Suez, em companhia do conde de Resende, da qual, no ano seguinte e já em Lisboa, publicaria o relato no Diário de Notícias, com o título De Port-Said a Suez. No mesmo ano escreveu, com Ramalho Ortigão, O Mistério da Estrada de Sintra, publicado igualmente no Diário de Notícias (que gerou enorme expectativa junto dos leitores, visto se apresentar como uma intriga policial verdadeira). Entretanto, foi nomeado administrador do concelho de Leiria e, posteriormente, após ter prestado provas que lhe permitiram obter o primeiro lugar, enveredou pela carreira diplomática.Em 1872, foi nomeado cônsul em Cuba, seguindo para Inglaterra, em 1874, e para Paris, em 1888.
Entretanto, em 1871, participou nas Conferências do Casino (cujo programa foi interrompido devido a proibição governamental) com uma intervenção intitulada O Realismo como Nova Expressão da Arte,na qual condenava a teoria da arte pela arte e se integrava num programa de realismo literário reformador da literatura e da vida portuguesas. As Farpas (1871), publicação mensal escrita de novo em parceria com Ramalho Ortigão, ilustra o desejo de levar a cabo uma análise crítica da sociedade portuguesa. Mas é sobretudo a partir das referidas conferências que se articula o projecto de uma colecção de novelas que, sob o título genérico de Cenas Portuguesas, analisasse os vários aspectos da sociedade da época, já segundo os preceitos da arte realista (análise minuciosa, física e psicológica, de pessoas e ambientes). Este projecto concretizou-se, mesmo se não de forma ortodoxa (no que ao realismo literário diz respeito), nos romances O Crime do Padre Amaro (romance inaugurador da nova escola cuja primeira versão foi publicada em 1875, nele se fazendo a análise da vida do clero e da pequena burguesia de província), O Primo Basílio (1878, análise da vida familiar da pequena burguesia lisboeta) e Os Maias (1888, retrato crítico da alta burguesia e da aristocracia de Lisboa). Na mesma linha se integram as obras, publicadas postumamente em 1925, A Capital (escrito em 1878, análise da classe literata), O Conde de Abranhos (escrito em 1878) e Alves & C.ª (escrito, provavelmente, em 1883). No entanto, Eça de Queirós nunca subjugou a sua personalidade artística à ortodoxia do realismo e do naturalismo. Em obras como O Mandarim (1880) e A Relíquia (1887), colocou ao serviço da sua imaginação e do seu gosto pelo fantástico certos métodos de escrita adquiridos naquela escola. Igualmente, as suas obras mais tardias como A Ilustre Casa de Ramires (1900), A Cidade e as Serras (1901) e Contos (reunidos em 1902), mais do que exemplos do realismo literário, são o reflexo da experiência do desencanto finissecular perante a tecnologia e a civilização urbana, encontrando o escritor a solução, aparentemente, no regresso ao campo, à vida dos simples. As hagiografias (descrições bigráficas de santos) incluídas no volume Últimas Páginas (1912), são sobretudo a encarnação desse desejo de regresso a uma pureza primitiva. De forma geral, e na sua fase mais realista, Eça dedicou-se sobretudo à análise social (mais que psicológica) de tipos humanos, representantes de certos grupos, vistos com uma ironia mordaz e maliciosa que se constituiu como arma de combate. Ausentes estão os tipos genuinamente populares. Na educação, e na adequação desta ao meio português, são analisadas muitas das causas dos problemas que afectam a mentalidade nacional. A sua forma de tratar estas questões gerou, na altura, grande controvérsia, sendo o escritor alvo de ataques públicos. Igualmente criticado foi o seu estilo, considerado afrancesado, que revolucionou a língua literária portuguesa. De facto, libertando-a de purismos e da oratória, aproveitando com naturalidade a linguagem comum e conseguindo associações inesperadas entre realidades aparentemente desconexas, Eça de Queirós imprimiu um cunho impressionista, condensado e rigoroso, de grande intensidade expressiva, que lhe permitiu, de forma económica, traçar os quadros e tipos observados sem os destituir de uma forte carga poética e sensível. Tal como a sua actividade de romancista, o papel de Eça de Queirós na análise do mundo seu contemporâneo em folhetins e textos jornalísticos foi fundamental. Foi fundador e director da Revista de Portugal (1889-1892) e colaborador de jornais nacionais e brasileiros. A sua experiência do exílio, o seu espírito crítico, céptico e desencantado perante a época (que se manifestou na sua participação, conjuntamente com outras dez personalidades da época — Carlos Mayer, Guerra Junqueiro, António Cândido, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Carlos Lobo d'Ávila, conde de Sabugosa, conde de Arnoso, marquês de Soveral e conde de Ficalho — nos Vencidos da Vida, «grupo jantante», segundo a própria designação de Eça, entre 1887 e 1893) permitiram-lhe encetar uma análise mordaz da vida portuguesa (mas também europeia), que, apesar de muitas vezes violenta, era o reverso de um amor intenso ao seu país. Fradique Mendes, alter-ego do escritor (Correspondência de Fradique Mendes, 1900), ou o Ega de Os Maias, reflectem muito da sua personalidade e dos seus sentimentos face ao país.
Para além das obras já referidas, Eça de Queirós é ainda o autor de Uma Campanha Alegre (1890-1891), Cartas de Inglaterra (1905), Ecos de Paris (1905), Cartas Familiares e Bilhetes de Paris (1907), Notas Contemporâneas (1909) e O Egipto (1926).Conhecido, dentro e fora de Portugal, pela sua ironia, fina ou sarcástica, pelo seu comprazimento no retrato caricatural ou grotesto, pela mestria da sua arte narrativa, é tido por muitos como um dos maiores prosadores da literatura portuguesa.
in Dicionário Universal da Língua Portuguesa (http://www.universal.pt/)
 
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